Fernanda Abreu e Pedro Luís puxam o fio de afetiva memória musical carioca de 30 anos em show no ‘Rio 50 graus’
19/02/2025
(Foto: Reprodução) Fernanda Abreu é convidada de Pedro Luís no show feito ontem pelo cantor no Teatro Ipanema, no projeto ‘Terças no Ipanema’
Raiane Nery / Divulgação
♫ CRÔNICA
♩ “Vim a caráter”, gracejou Fernanda Abreu, diante de Pedro Luís, apontando para a camisa que vestia com a estampa “amor geral”, título do álbum lançado pela artista em 2016.
Sim, Fernanda Abreu estava vestida a caráter ao pisar no palco do Teatro Ipanema Rubens Corrêa na noite de ontem, 18 de fevereiro, como convidada do terceiro dos quatro shows que vem sendo feitos por Pedro ao longo deste mês dentro do projeto Terças no Ipanema, realizado com curadoria de Flávia Souza Lima no histórico teatro carioca.
Afinal, Pedro Luís apresentava o show do álbum solo E se tudo terminasse em amor?, título mais romântico da discografia do artista.
Contudo, embora Fernanda Abreu tenha até cantado a balada autoral Você pra mim, sucesso do primeiro álbum solo da cantora, Sla radical dance disco club (1990), o que os dois artistas expressaram juntos no palco do Teatro Ipanema foi o amor pela cidade do Rio de Janeiro (RJ).
E tudo soou natural. Até porque ambos são naturais do Rio de Janeiro e construíram obras arquitetadas em torno da geografia carioca, com incursões por gêneros como samba, funk, samba-funk e rap, mas sem o romantismo idealizado de letras de músicas que, em tempos idos, exaltaram um Rio irreal.
O Rio de Fernanda Abreu e Pedro Luís é retratado como um Rio real, a cidade-maravilha em que, entre belezas e caos, a chapa costuma esquentar, e não somente quando a sensação térmica ronda os 50 graus, como nos últimos dias.
Não por acaso, Pedro já cantou músicas como Navilouca (1997) antes de chamar Fernanda ao palco. Juntos, Pedro Luís e Fernanda Abreu puxaram o fio de uma afetiva memória musical carioca conjunta que já soma três décadas.
Ambos surgiram na década de 1980, mas foi em 1995, há 30 anos, que os caminhos dos artistas se cruzaram para valer quando Fernanda compôs em parceria com Pedro a música Tudo vale a pena e gravou a composição no aclamado álbum Da lata (1995).
Foi a primeira vez que uma música de Pedro Luís foi gravada por uma cantora conhecida em todo o Brasil. O artista já militava na cena underground carioca há anos, como integrante dos grupos Urge e Boato, mas ainda não tinha obtido projeção, o que somente ganhou a partir de 1997 quando Pedro Luís lançou o álbum Astronauta Tupy com o grupo A Parede.
Aliás, após os duetos em Tudo vale a pena e Você pra mim, a participação de Fernanda Abreu foi arrematada com o canto do Rap do real, música de Pedro Luís com Rodrigo Maranhão que inspirou o título do segundo álbum de Pedro com a Parede (É tudo um real, de 1999) e que já vem sendo revivida em alguns shows da cantora.
Cariocas da gema, Fernanda Abreu e Pedro Luís nasceram geográfica e musicalmente um para o outro e, por isso, se afinaram no encontro amoroso do show realizado na noite quente do Rio 50 graus.
